26.12.10

Voar (?!)

O que se faz quando o chão desaparece debaixo dos teus pés???
Alguns caem em um incessante abismo, sentindo nunca mais encontrar o chão, outros, talvez os mais espertos, reinventam-se, aprendem a voar, pra não precisarem mais de chão ou piso ou base.
Juro que agora, enquanto não há chão sob meus pés, dependurada em qualquer coisa que não sei, temo a queda e temo voar. Só queria o chão de novo, queria que ele não tivesse sumido. Porra (!), estava aqui...
Mas as vezes esse quê de segurança inconstante vem pra nos lembrar que nada e absolutamente nada pode ser controlado, nem vida, nem a morte, nem a dor, nem o amor...
E o chão???
Às favas com o chão, já sinto as asas...
Ainda me segurarei, por mais uns instantes, verei de que minhas forças são feitas.
Depois (?!) me soltarei e se tiver que cair, que o abismo não seja muito fundo, e se tiver que voar, que o céu seja infinito!!!

2.12.10

Hoje não estou para crônicas...

Hoje não estou para crônicas,
Montante de palavras amontoadas e emaranhadas,
Entregues e explicadas
A quem quer que seja.
Hoje não estou para crônicas,
Métricas e protocolos
Esperando serem seguidos,
Regras lingüísticas a serem obedecidas,
Períodos completos, compostos,
Intransitivos, intransigentes e inflexíveis.
Hoje a folha é grande 
E me faltam palavras...
Pra que muitas, pra que várias?
Amanhã eu volto pr'as crônicas...
Rotineiras e cotidianas,
Simples, claras...
Hoje em sou poesia,
Poesia livre.
Poesia de vento..
de ar...
de fogo...
Hoje não estou para crônicas,
Hoje quero voar...



27.10.10

Senso - Crítico

Às vésperas do segundo turno, gostaria de deixar aqui meu desagrado com a campanha de ambos os candidatos à presidência.
Esse misto de repúdio e asco diante da necessidade em, ora vitimizar-se, ora, sem escrúpulos, atacar seu adversário sem contemplar o maior propósito em questão: as propostas de campanha, me incomodam profundamente.
Nesse toma lá dá cá de impropérios, fico em meio a um campo de batalha, sentindo-me exposta, explorada e órfã...
Se, no primeiro turno, a quantidade de votos nulos e brancos exacerbada deflagra a insatisfação da população eleitoral, o segundo turno nos traz outro movimento, o movimento conservador e moralista.
Sobre os votos em brancos, gostaria de ressaltar aos menos avisados que NÃO (!), eles não vão para o candidato que está ganhando ou já tenha sido eleito. Essa crença reflete quão inseridos no contexto político alguns de nós está.
Enfim, mais que simples repúdio, meu texto trata dessa ignorância e reprodução de dogmas sem senso-crítico que invadiu a mente do brasileiro.
Seja seguindo líderes religiosos, TV, ou qualquer outra forma de "obediência", noto que muitos, hoje em dia, refletem o voto de seus pais, aliás, em nossa sociedade patriarcal, isso ainda é tão comum quanto doloroso de se admitir, mulheres e filhos repetindo a escolha do "homem da casa".
Porra (!), pensemos por nós... Tantos brigaram, tantos morreram para que depositássemos em um tecladinho de merda o que o papai mandou?!?!?!
Eleição é mais que isso.
Há pouco, na copa do mundo, batíamos recordes em venda de televisores para acompanharmos a nossa tão querida seleção brasileira, e sua amarga derrota em nossas telas de LCD nem doeu tanto...
Nem é mais necessária a política do pão e circo, nós mesmos nos entretemos, sabe-se lá Deus com que, enquanto o Tiririca é o deputado federal mais votado mesmo nem sabendo o que tal cargo significa, nós mesmos fazemos as nossas festas enquanto as mídias tradicionais escolhem nosso candidato por nós.
O pão e circo somos nós! Somos nós que estamos alheios à tudo, jantando e assistindo "passione", concordando com as 5 ou 6 propagandas do Serra, sem nos questionarmos porque não vimos nenhuma da Dilma.
Será mesmo que somos tão inocentes a ponto de crer que a corrupção é exclusividade do governo Lula e particularidade do PT? Ou que a Dilma é uma louca desvairada que matou meio mundo feito a Lara Croft como alguns sugerem???
Essa é uma eleição de conservadores, se destaca quem vai à igreja e diz no horário eleitoral: "Oh, fica com Deus"...
Não! A Dilma não pagou para que Judas traísse Jesus, não ateou fogo em Roma, não matou o Michael Jackson nem a Odete Roitman... Ela não é das Farc e tampouco tem pacto com o diabo, ok?!?!

Pensar por si só é mesmo coisa muito séria, mas ser marionete dos pais, da mídia, padre ou pastor, amigos ou boatos.... isso pra mim já é démodé!!!

27.9.10

Podres Poderes

Às portas de mais uma eleição e já há tanto sem escrever, quebro o período de silêncio para expressar aqui a angústia que vem me incomodando.
Concordo que nunca tivemos um candidato que se enquadrasse no que se espera de um verdadeiro presidente, mas já vi muita gente interessante nas eleições de que participei.
A esperança de possibilidades melhores somada ao cansaço com os tucanos fez com que Lula vencesse de forma surpreendentemente em 2002, contando com meu voto, meu primeiro voto, em plenos 16 anos, muito mais por ideologia que por racionalidade e, lógico, uma puta vontade de mandar o pé na bunda da direita.
Quatro anos depois, embora relativamente satisfeita, não repeti meu voto, somente a ideologia já que, tão surpreendente quanto a vitória do PT, foi a forma como tal partido se posicionou no governo.
Hoje, em minha terceira oportunidade, a angústia é pelo cansaço, as ideologias adolescentes se foram e a maturidade forçosamente ganha espaço, os tucanos ainda não recebem meu voto, mas creio nenhum outro também.
Essa semana assisti ao debate da rede Record e me assustei (mais!) com o que encontrei: uma candidata fabricada pelo governo atual que servirá somente para esquentar a cadeira do Lula, enquanto ele não puder se candidatar novamente; um tucano já há muito conhecido que é tão baixo quanto suas propagandas; uma ecologista com muita vontade mas pouca coragem diante dos grandes e poderosos políticos e um velho um tanto perdido que atacava seus oponentes talvez por não conseguir ou querer se auto-promover como os anteriores, no fim foi o que mais me rendeu boas gargalhadas...
Tá, eu sei que não são completos demônios, a Dilma não é a assassina sanguinária que o Serra quer que acreditemos, a Marina até é um pouco conservadora, mas ao menos gosta de plantinhas, o Plínio é inteligente e desbocado e o Serra deve ter alguma qualidade que me foge à cabeça agora, mas acho que muitos concordam que nesse yin yang de personalidades tão controversas, os prejudicados somos nós, eternos esquecidos pela máfia do colarinho branco, todos extremamente preocupados em aprovar leis como o vergonhoso ato médico ou contra direitos iguais para homossexuais, levando suas namoradas famosas para viagens inesquecíveis e – “Põe na conta do povão...!”.
Eu tinha uma professora, fantástica por sinal, que dizia freqüentemente que para se conseguir qualquer espaço na sociedade e exercer nossos papéis como cidadãos, devemos ter vez e voz, dessa forma, uso minha voz para dizer que é a vez de demonstramos nossa insatisfação quanto ao que nos vem sendo apresentado... Já!!!!!!!!!!!!!
“(...) aqui na terra tão jogando futebol, tem muito samba, muito choro e rock in roll, uns dias chove, noutros dias bate sol, mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui ta preta, muita careta pra engolir a transação, e a gente ta engolindo cada sapo no caminho e a gente vai se amando que também sem um carinho ninguém segura esse rojão (...)” (Chico Buarque).
“(...) será que essa minha estúpida retórica terá que soar, terá que se ouvir por mais zil anos (...)” (Caetano Veloso).






14.1.10

A FINITUDE DA VIDA

O ser humano sempre buscou saber sobre seu destino, religiões explicam a morte, a ciência aborda o assunto, muitos têm opinião formada, outros preferem não pensar sobre o tema.
Algumas teorias religiosas pensam em vida após a morte, enxergando esta como simples passagem de uma possibilidade a outra do espírito. A filosofia heideggeriana defende a importância de se admitir a finitude da vida em favor da autenticidade do ser. Outras doutrinas crêem em um sono profundo após a morte e um suporto juízo final que dividirá os bons dos maus baseando-se nas benfeitorias terrenas.
Nesse bombardeio de informações, as pessoas se posicionam segundo seus dogmas e experiências. Eu, particularmente, evito pensar no assunto, finjo onipotência e eternidade até que a vida me prove o contrário. E prova!
A todo instante nos deparamos com a morte, seja de um amigo, familiar, cônjuge ou mero conhecido, seja no nosso cuidado em não morrer, procurando um médico quando necessário, evitando lugares perigosos ou não nos arriscando, seja quando pensamos nela como consolo, na doença de alguém querido ou no suicídio. Enfim, convivemos com a morte a todo instante, em nossas experiências e nas dos outros.
O certo é que entendo a morte como uma puta sacanagem com a vida, uma injustiça contra todas as nossas possibilidades de ser, de nos conjugar nos mais diversos verbos, a morte é castradora, nos detém em nossas encenações, fecha as cortinas no meio da peça e deixa o público estarrecido, perplexo com o trágico espetáculo.
Arnaldo Antunes, em sua música “Fim do Dia”, cita algo parecido com o relato de meu sentimento: “Demora tanto, demora tanto pra crescer, pra depois, de uma hora pra outra morrer (...)”. Mas, na mesma música, diz que “não há o que lamentar quando chega o fim do dia”. Sua comparação da vida com o dia é tragicamente bela, afinal, concordando ou não com a morte, buscando ou fugindo dela, eis um fato, todos morrem mais cedo ou mais tarde. E, aqui, cito outra do mesmo compositor: “(...) Saiba, todo mundo vai morrer, presidente, general ou rei, anglo-saxão ou mulçumano, todo e qualquer ser humano (...)” (Saiba – Arnaldo Antunes).
Renato Russo, mais melancólico, afirma que “os bons morrem jovens”, mas não concordo muito com isso, ainda estou aqui, (rsrsrs). Brincadeiras a parte, o fato é que é muito triste ver a peça findar-se no melhor do espetáculo e alguém partir “cedo demais”.
É provável que você se questione sobre a importância de um assunto destes no início do ano, em que as esperanças renovadas necessitam de pensamentos positivos. Às duras penas, admito ser primordial pensarmos nisso às vezes, sobre como a vida é imediata (!). Com certa dificuldade, confesso, sou obrigada a concordar com Heidegger, filósofo do século XX, somente com a visão da finitude da vida é que, talvez, paremos de adiá-la, contendo e detendo a vida para momentos em que não podemos afirmar se haverá vida.

Agora, mais que uma música, enumerei uma lista sobre o assunto, porque música é vida, mesmo que nos possibilite pensar sobre a morte. E uma dica de livro: “As intermitências da morte” do Saramago, história de um país em que não existia mais a morte e as pessoas rumavam para a fronteira a fim de morrerem em paz.