23.10.09

O REGGAE

A redução da maioridade penal, de vez em vez, acalora discussões seja de amigos, políticos, ou mesmo leigos, provando um longo impasse na solução dessa questão.
Para quem, talvez, desconheça o assunto, reduzir a maioridade penal é alegar que um jovem pode responder por seus atos antes da idade atualmente compreendida pena lei, 18 anos. Hoje um indivíduo de 18 anos ou mais que cometa alguma penalidade e é condenado pela justiça, vai para o presídio, tornando-se mais um na vasta sociedade de detentos que cada vez mais aglomera-se em seus cárceres sub humanos. Já um indivíduo abaixo dessa idade, se condenado, no máximo, vai parar em uma fundação casa (antiga febem), junto com outros, presos pelos mais diversos crimes.
Não vejo a redução da maioridade penal como uma solução, quiçá, uma remediação ao caos instalado e vivenciado nas mais diversas cidades brasileiras, atualmente.
Vivemos em uma sociedade de realidades discrepantes, em que a educação básica é precária e a saúde, ineficiente, assim, embora o ambiente jamais seja fator determinante, todas essas relações influenciam na socialização desse indivíduo. Em outras palavras, criamos toda essa criminalidade que tentamos extirpar. Prende-se um menor hoje, amanhã teremos mais "filhos da marginalidade" pra nos preocupar.
Aprendemos, desde cedo, a sermos punitivos. Uma criança apanha depois de alguma traquinagem, um adolescente é castigado depois de alguma rebeldia ou desobediência, pouco estamos interessados em sua aprendizagem, somente na punição que deve ser aplicada após uma infração.
Alguns ainda pensam que a punição causará medo, como se reduzindo a idade penal, outros menores deixariam de cometer crimes. Se esse argumento fosse coerente, já não haveria mais criminalidade nas ruas, ninguém mais matava, roubava, sequer burlaria a lei.
Não estou defendendo a passividade, nem vivendo em um mundo de fantasias, oferecendo a outra face, idealizando, um dia, o Nobel da paz, só penso que superlotar nossas cadeias (mais?!), pilhas de processos crescendo em almoxarifados de Fóruns (mais?!), criar mais um órgão pra se responsabilizar pelos trabalhos de presídios e fundações casa, não resolverá o problema.
Antes de tomar medidas desesperadas e desgastar discussões com questões inconstitucionais, prefiro a ideia de acreditar no indivíduo até que se esgotem todas as possibilidades!!!
Então, pra quem gosta e pra quem não conhece, vale a pena conferir "o reggae", musica da legião que retrata a construção e marginalização de oprimidos esquecidos pela "elite" brasileira.



12.9.09

DEBAIXO D'ÁGUA

Todos os dias convivo com minhas necessidades e medos, expectativas e frustrações. Convivo comigo e com o outro, descobrindo a todo momento todo o mundo que me cerca e raramente ele me agrada. Ora construo convicções, ora reproduzo dogmas. Em todos os momentos fujo de verdades, construindo as minhas quando me convém.
Quando procurava a próxima música para o blog, me lembrei de uma canção do fantástico Arnaldo Antunes que narra uma possível época sem divagações; tal música interpretada fabulosamente por Maria Bethânia traz trechos como "Debaixo d'água tudo era mais bonito, mais azul, mais colorido, só faltava respirar... mas tinha que respirar" e "Agora eu vivo na barriga, agora eu brigo pra voltar".
Creio não abir mão da minha vida extra-uterina, tão cheia dessa complexidade viciante, mas que o esconderijo materno é tentador, com certeza é.
É bem verdade que nem todo útero deve oferecer essa plenitude pregada pela cantor, porém, algumas vezes em que não se há lugar para fugir, que as respostas se extuinguem, que as perguntas se acumulam, as duvidas se confundem e que as palavras se repetem, justamente aí que "debaixo d'água" parece ser o lugar mais seguro do mundo!!!

4.9.09

A PALO SECO

Quem nunca pensou em fugir, sumir, perder-se, largar-se no mundo, sem rastro nem paradeiro?
Esse é um desejo muito familiar aos nossos ouvidos. A necessidade de fuga diante de determinadas situações é explicada pela fisiologia e psicologia e virou até frase de música do Teatro Mágico: "O primeiro senso é a fuga. Bom... Na verdade é o medo, daí então a fuga". Todos já fugimos e, às vezes, nem lembramos ou sabemos de quê.
Há pouco tempo a mídia noticiou alguém que se escondeu. Nada de mais não fosse uma das maiores figuras da MPB, Belchior.
Antônio Carlos Gomes Belchior deu um basta em sua rotina e foi ser "um rapaz latino americano", largando carro em aeroporto, casa e família para cair no mundo uns tempos, e isso chegaria a ser utópico senão um mito, não fosse o fantástico invadir o esconderijo do cantor.
Pra quê? Expliquem-me pra quê?
Você quer saber onde está Belchior? Nem eu...
Você sabe onde está Alceu Valença, Margareth Meneses ou João Gilberto? Rosana, Erasmo Carlos? Pense no seu cantor preferido. Você sabe onde ele está agora? (Não vale acessar ao Twitter!).
Deixem o Belchior em paz e vão seguir alguma pseudo-celebridade louca pra virar notícia.
Nem gosto muito do Belchior, acho as composições ótimas e prefiro suas músicas na voz de algum outro intérprete mas confesso que tomei as dores dele ao ver a insistente repórter global incomodando o templo de ócio do compositor.
Aproveitando a notícia, gostaria então de indicar uma música na voz Los Hermanos "A Palo Seco", composição do nosso "fujão" Belchior... Vale a pena baixar e escutar...