14.1.10

A FINITUDE DA VIDA

O ser humano sempre buscou saber sobre seu destino, religiões explicam a morte, a ciência aborda o assunto, muitos têm opinião formada, outros preferem não pensar sobre o tema.
Algumas teorias religiosas pensam em vida após a morte, enxergando esta como simples passagem de uma possibilidade a outra do espírito. A filosofia heideggeriana defende a importância de se admitir a finitude da vida em favor da autenticidade do ser. Outras doutrinas crêem em um sono profundo após a morte e um suporto juízo final que dividirá os bons dos maus baseando-se nas benfeitorias terrenas.
Nesse bombardeio de informações, as pessoas se posicionam segundo seus dogmas e experiências. Eu, particularmente, evito pensar no assunto, finjo onipotência e eternidade até que a vida me prove o contrário. E prova!
A todo instante nos deparamos com a morte, seja de um amigo, familiar, cônjuge ou mero conhecido, seja no nosso cuidado em não morrer, procurando um médico quando necessário, evitando lugares perigosos ou não nos arriscando, seja quando pensamos nela como consolo, na doença de alguém querido ou no suicídio. Enfim, convivemos com a morte a todo instante, em nossas experiências e nas dos outros.
O certo é que entendo a morte como uma puta sacanagem com a vida, uma injustiça contra todas as nossas possibilidades de ser, de nos conjugar nos mais diversos verbos, a morte é castradora, nos detém em nossas encenações, fecha as cortinas no meio da peça e deixa o público estarrecido, perplexo com o trágico espetáculo.
Arnaldo Antunes, em sua música “Fim do Dia”, cita algo parecido com o relato de meu sentimento: “Demora tanto, demora tanto pra crescer, pra depois, de uma hora pra outra morrer (...)”. Mas, na mesma música, diz que “não há o que lamentar quando chega o fim do dia”. Sua comparação da vida com o dia é tragicamente bela, afinal, concordando ou não com a morte, buscando ou fugindo dela, eis um fato, todos morrem mais cedo ou mais tarde. E, aqui, cito outra do mesmo compositor: “(...) Saiba, todo mundo vai morrer, presidente, general ou rei, anglo-saxão ou mulçumano, todo e qualquer ser humano (...)” (Saiba – Arnaldo Antunes).
Renato Russo, mais melancólico, afirma que “os bons morrem jovens”, mas não concordo muito com isso, ainda estou aqui, (rsrsrs). Brincadeiras a parte, o fato é que é muito triste ver a peça findar-se no melhor do espetáculo e alguém partir “cedo demais”.
É provável que você se questione sobre a importância de um assunto destes no início do ano, em que as esperanças renovadas necessitam de pensamentos positivos. Às duras penas, admito ser primordial pensarmos nisso às vezes, sobre como a vida é imediata (!). Com certa dificuldade, confesso, sou obrigada a concordar com Heidegger, filósofo do século XX, somente com a visão da finitude da vida é que, talvez, paremos de adiá-la, contendo e detendo a vida para momentos em que não podemos afirmar se haverá vida.

Agora, mais que uma música, enumerei uma lista sobre o assunto, porque música é vida, mesmo que nos possibilite pensar sobre a morte. E uma dica de livro: “As intermitências da morte” do Saramago, história de um país em que não existia mais a morte e as pessoas rumavam para a fronteira a fim de morrerem em paz.